Com o seguinte Discurso, tomou posse no dia 19 de março o novo Grão Mestre da Grande Loja do Paraná, Irmão Iraci da Silva Borges:

Artigo 1
 
Fica decretado que agora vale a verdade,
que agora vale a vida,
e que de mãos dadas,
trabalharemos todos pela vida verdadeira.
 

Artigo 2
 
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo.
 

Artigo 3
 
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresça a esperança.
 

Artigo 4
 
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu.
 
Parágrafo
 
O homem confiará no homem
como um menino confia em outro menino.
 

Artigo 5
 
Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da menina.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura das palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa.
 

Artigo 6
 
Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto da aurora.
 

Artigo 7
 
Por decreto irrevogável fica estabelecido
o reinado permanente da justiça e da caridade,
e a alegria será uma bandeira generosa
para sempre desfraldada na alma do povo.
 
 
Artigo 8
 
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor.
 
 
Artigo 9
 
Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu amor,
mas que sobretudo tenha sempre
o quente sabor da ternura.
 

Artigo 10
 
Fica permitido a qualquer pessoa,
a qualquer hora da vida
o uso de traje branco.
 
 
Artigo 11
 
Fica decretado por definição, que o homem é um
animal que ama
e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã.
 

Artigo 12
 
Decreta-se que nada será obrigado nem proibido.
Tudo será permitido,
inclusive brincar com os rinocerontes
e caminhar pelas tardes
com uma imensa begônia na lapela.
 
Parágrafo
 
Só uma coisa proibida:
amar sem amor.
 
 
Artigo 13
 
Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou.
 
 
Artigo Final
 
Fica proibido o uso da palavra liberdade,
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante,
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
ou como a semente do trigo
e a sua morada será sempre
o coração do homem.

(Decretado Fica – Thiago de Mello)
Iniciei minha fala com o Decreto editado pelo Poeta Thiago de Mello, pois com ele me inspirei para esta primeira manifestação, na condição de Grão Mestre da Grande Loja do Paraná.

O faço com a emoção incontida que envolve momentos que são únicos em nossa vida e, principalmente, na interação que realizo entre a realidade que me envolve e a lição clara e positiva do Poeta.

Estou, neste momento, recebendo, por empréstimo, das mãos do Poderoso Irmão João Carlos Silveira, que foi seu fiel depositário nos últimos nove anos, o legado histórico da Grande Loja do Paraná, em seus 70 anos de realizações soberbas.

Realizações que foram fruto das superações daqueles pioneiros, que enfrentaram dificuldades que fariam qualquer um esmorecer, principalmente nestes tempos mais atuais, mesmo com as facilidades modernas existentes, tais como as da área das comunicações, seja nos transportes e em outras tantas.

Recebo a GRANDE LOJA DO PARANÁ por empréstimo, pois me cabe apenas a responsabilidade de manter a integridade construída ao longo dos 70 anos de sua história, passando-a ao cabo dos três anos do mandato que hoje inicio, àquele que me vier suceder, pois, em última análise, a certeza é a de que a propriedade deste legado pertence sempre aos novos Irmãos que, iterativamente, vamos recebendo em nossa Ordem, num movimento constante, que haverá de garantir a nossa perenidade.

Temos consciência da gravidade das circunstâncias e das asperezas que enfrentaremos em nossa missão.   Sabemos o quanto de nós será exigido na condução da GRANDE LOJA DO PARANÁ nos próximos três anos.

Nos caberá, antes de tudo, compatibilizar as diversidades de pensamento existentes, que às vezes podem traduzir incompreensão, sem nos desviarmos da firme intenção de que nos dedicaremos, integralmente, na busca da satisfação da grande maioria, o que levará, por certo, à agregação de todos, conduzindo-nos para a grande missão de nossa Ordem, que é a de fazer a humanidade feliz, trabalho este que deve ser iniciado por nos sentirmos felizes naquilo que fazemos e ao qual nos dedicamos, através do efetivo encontro com a liberdade e a igualdade que a verdadeira fraternidade nos oferece.

Temos a intenção de conduzir nossa GRANDE LOJA DO PARANÁ sob o compromisso de incorruptibilidade de nossas tradições e antigas obrigações, tratando-a, no entanto, com a modernidade que o Século XXI exige, ou seja,  oferecendo mecanismos tecnológicos que facilitem a vida de nossas Lojas e, principalmente, fazendo de nossa Instituição um exemplo de cidadania a ser seguido pelos nossos Obreiros, exortando-os a inserir-se nos mais diferentes seguimentos de organização de nossa Sociedade.

Como Instituição Cidadã, vamos incrementar a formação do Homem Maçom, bem como vamos ajudá-lo a influir no direcionamento da família Maçônica, através, principalmente, do incentivo às atividades paramaçônicas, pois, iniludível que ser Maçom exige considerar-se um Educador da Humanidade, desenvolvendo a capacidade de influenciar os comportamentos dos seus semelhantes, bem como de orientá-los, principalmente com exemplos.

Educar não é, como muitos equivocadamente entendem, proporcionar mais cultura ou conhecimento. Diz o dicionário que a palavra vem do latim “Educere” e significa literalmente “conduzir para fora”,  ”revelar o que está oculto ou latente dentro de uma pessoa,” isto é, potencializar toda a energia que ela tem dentro de sí e que ela própria desconhece, ou seja:  “prepará-la para o mundo.”

Dedicando-nos à educação, acima de tudo estaremos protegendo nossos Templos e tradições de ataques exógenos, pois o conhecimento e a intimidade com algo que se admira, somente conduz ao desenvolvimento do amor e do desejo de protegê-lo.

A nossa missão, como Obreiros da Arte Real, é e será a de demonstrarmos efetivo compromisso para com a Verdade e o Bem Comum da sociedade humana.

A forma e velocidade com que o faremos será determinado pela opinião de cada Mestre Maçom da jurisdição, ouvidos através de consultas que serão conduzidas por seus Veneráveis Mestres, que culminará na primeira experiência, em nossa Grande Loja, de um Seminário para definição do planejamento estratégico a ser observado em nossa gestão, que ocorrerá nos próximos dias 16 e 17 de abril.

Nossa grande função, como Grão Mestre, resumir-se-á a administrarmos a equipe que escolhemos para nos acompanhar nesta jornada, composta de pessoas com inequívoco compromisso com a Grande Loja do Paraná.

Contaremos, dentro da estrutura da Grande Secretaria de Relações Interiores, com cinco subdivisões Adjuntas, que serão destinadas a cuidar, descentralizadamente, da:

• TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO (Neste exato momento está entrando em atividade um novo site da GLP, dando-se o primeiro passo em direção à informatização das relações entre a Grande Loja e suas Lojas filiadas.

• RELAÇÕES INSTITUCIONAIS (que se destinará a assessorar o Grão Mestre e as Lojas filiadas em suas relações com órgãos não maçônicos, como os Governamentais, por exemplo).

• RELAÇÕES PÚBLICAS (que auxiliará o Grande Secretário de Relações Interiores na divulgação das atividades da Grande Loja, quando aí residir interesse).

• AÇÃO SOCIAL (que fará a integração da Grande Hospitalaria com a Grande Comissão de Ação Social), tornando-se em um banco de idéias e de sua implementação, em prol dos menos favorecidos (Maçons e não Maçons).

• ASSUNTOS CULTURAIS (integrando a Grande Biblioteca à distribuição de conhecimento, utilizando-se, principalmente, da tecnologia de informação que será colocada à disposição de todos os Obreiros).

Este organograma funcional traduz a nossa intenção de delegar atividades, otimizando nossa capacidade de trabalho e valorizando, como há de acontecer, a representatividade da Grande Loja do Paraná, no cenário em que está e no qual deve estar projetada.

Privilegiaremos os contatos entre o Grão Mestre e os Veneráveis Mestres das nossas Lojas, fazendo com que sejam mais intensos e produtivos, uma vez que diretos, frequentes, sem interferências de escala administrativa.

É certo, contudo, que esta nossa intenção somente atingirá o integral resultado esperado, se estiver calcada no apoio concreto que recebermos de nossos Veneráveis Mestres e dos Irmãos que integram cada uma de nossas Lojas, que certamente não deixarão de compreender que a execução do planejamento de ação, que iremos construir juntos, é responsabilidade de todos.

A página das eleições que recentemente tivemos, e que me possibilitou estar recebendo o encargo de ser o Grão Mestre da Grande Loja do Paraná, está definitivamente virada, cabendo-nos seguir a máxima maçônica de esquecê-la, subjugando ressentimentos, paixões e intransigências.

Assim, se na vida profana os atritos que porventura aconteçam geram o calor da paixão, na Maçonaria temos a obrigação de, elevando Templos à virtude e cavando masmorras ao vício, manipularmos o princípio de física, fazendo com que do atrito somente seja gerada a LUZ, aquela que aquece e que conforta, uma vez que oriunda da razão que é o alicerce da justiça.

Desta forma, com esta concepção, é que a Grande Loja inicia mais um segmento de sua caminhada gloriosa.

Já disse publicamente, que estamos iniciando um momento das mãos estendidas, em busca do calor humano, da solidariedade, da paz e da amizade que devem nortear os nossos caminhos e, com a maior sinceridade, desejamos encontrar a receptividade e reciprocidade que se espera de verdadeiros Irmãos.

Sem a intenção de nos delongarmos, em obediência ao princípio da brevidade, gostaria de encerrar estas palavras de certeza e de esperança, agregando texto de Fernando Pessoa – Pedras no Caminho, que assim diz:

 “
Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes,
Mas não esqueço de que minha vida
É a maior empresa do mundo…
E que posso evitar que ela vá à falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver
Apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e
Se tornar um autor da própria história…
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar
Um oásis no recôndito da sua alma…
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo.
É ter coragem para ouvir um “Não”!!!
É ter segurança para receber uma crítica,
Mesmo que injusta…
 
Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo…  “.
Muito obrigado.

Iraci da Silva Borges, Grão Mestre

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Faoro

Mestre Instalado da ARLS Liberdade Igualdade Fraternidade nº 159